Esta não posso deixar de partilhar aqui!
É a tradução de uma carta escrita pelo
Mr Darcy a Elizabeth. Retirei do blog brasileiro 'improvement of mind'
da Samanta Fernandes que foi quem fez a tradução de um dos textos que
constam no livro 'Pemberley Medley' da Abigail Reynolds. Esse texto baseia-se no seguinte:
"E
se Elizabeth acreditasse nas suspeitas de Charlotte que Darcy está
apaixonado por ela e tomasse medidas para tentar desencorajá-lo? Ao
invés de serem atraídos um pelo outro, todas as vezes que ele se
encontram, eles acham uma nova maneira de se antagonizarem. Em
desespero, Darcy resolve escrever uma carta a Elizabeth para transmitir o
que ele não consegue falar-lhe. Esta carta é bem diferente da original
do livro, mas incrivelmente romântica!"
"Rosings, five in the morning
Se esta carta não é para ser
entregue às chamas, eu preciso considerar por onde começar. Eu
contei-lhe tantas vezes, nos meus sonhos e nestas cartas, da minha
ardente admiração pela sua pessoa, o extraordinário prazer que eu
obtenho simplesmente de estar na mesma divisão que você, como o som do
seu riso traz calor para o meu mundo frio, como os seus olhos brilham
quando você me provoca, que é fácil esquecer que eu não usei nada mais
do que olhares para comunicar aqueles sentimentos para você na
realidade. Mas devo começar por algum lugar e fá-lo-ei pela noite do
baile de Netherfield. Eu estava determinado a dançar com você naquela
noite, a ter o privilégio de sua atenção por uma meia hora inteira, uma
possibilidade tão intoxicante quanto um bom vinho. Por semanas
permaneci discreto, ouvindo as suas conversas, notando para quem você
sorria e de quem você preferia receber as atenções, o que fazia você
sorrir, e como intercedia quando sentia alguém em risco de ser ofendido.
Eu queria entender a sua magia, que encanto você usava para me manter
escravo, que elemento secreto você possuía que não me permitia desviar o
olhar; eu, que tinha olhado para as grandes beldades da sociedade e
permanecido impassível.
Vim à Netherfield logo depois de
instalar a minha irmã numa casa em Londres, depois do terrível caso do
qual você está ciente. Eu nunca fui muito inclinado para eventos
sociais, preferindo uma noite tranquila com alguns amigos do que um
Baile em Almack, mas naquele momento minha aversão pela sociedade estava
em sua maior intensidade. O homem que, embora nós tenhamos nos
distanciado, era meu amigo mais antigo tinha me traído da pior maneira
possível. Eu não estava com humor para fazer novos conhecidos, e
qualquer coisa que me lembrasse caçadoras de fortunas me enraivecia. Eu
não me importava com o que pensavam de mim, e sentia pouco prazer em
qualquer coisa. Então, um dia, alguém numa festa pediu-me minha opinião
sobre algo. Eu respondi concisamente, sem dúvida rudemente, e você virou
seus belos olhos para mim e disse: “E enfim o Sr. Darcy deslumbrou o
salão com seu conhecimento! Nós todos devemos estar devidamente gratos.”
A sua voz risonha pareceu fazer as velas queimarem mais brilhantes, e
eu me tornei seu prisioneiro. Mas toda vez que eu tentava aproximar-me
de você, você parecia voar para longe. Você se recusou a dançar comigo
em Lucas Lodge e depois em Netherfield durante a doença da sua irmã.
Depois disso meu único prazer era olhar para você, ouvir você falar,
pensar em você, sonhar com você todas as noites.
Minha querida Elizabeth – eu devo
ter esperanças que você me irá perdoar pela minha ousadia em chamá-la
dessa maneira; mas já que eu escrevi para você tantas cartas que nunca
eram para serem lidas, e é de pouca importância para o fogo quão ousadas
são as palavras que ele queima, eu tomei essa liberdade muitas vezes
para renunciá-la agora, porque o som do seu nome, a aparência dele vindo
da minha pena, é um prazer viciante – você não pode imaginar o tormento
que eu senti ao deixar Hertfordshire, sabendo que era improvável que eu
algum dia fosse vê-la novamente. Eu duvido que eu poderia ter
encontrado a determinação para fazer isso por minha própria causa; foi
apenas por um senso de dever para com Bingley que eu me forcei a deixar a
teia de encanto que você tinha lançado sobre mim. Eu queria poder dizer
que a esqueci rapidamente, mas isso seria uma mentira; você era o meu
primeiro pensamento na manhã e meu último à noite, e você dançava
através dos meus sonhos como uma ninfa da qual eu não podia ter
esperanças de escapar, nem eu mesmo desejava. Por um tempo eu achei que
isso me levaria a loucura, e eu tinha recém recobrado algum senso de mim
mesmo quando deixei Londres para Rosings, apenas para encontrar a
própria ninfa no final da minha jornada.
Mesmo um breve tempo na sua
companhia foi o suficiente para me colocar mais uma vez no mais grave
dos perigos, talvez ainda mais do que eu tinha estado em Hertfordshire,
porque eu agora tinha a certeza de que eu não podia escapar de você. Eu
tentei com todo meu ser me manter distante, mas um provocador Cupido
continuava me jogando no seu caminho – na igreja, onde eu não podia
prestar atenção no sermão, já que todas as minhas preces eram para você;
quando você jantava em Rosings, e eu sabia que toda as expectativas
familiares do mundo não podiam compensar pela alegria que eu recebia
sempre que um sorriso tocava os seus lábios. Eu estava perdido antes
mesmo de eu começar.
Eu te contaria do meu desejo por
você, mas aquelas palavras não são adequadas para os olhos de uma
donzela; aquela carta deve ser alimento para o fogo faminto, que não
queima tão ferozmente quanto meu amor por você. Eu poderia escrever para
você da profundidade da minha irremediável admiração por você e como
ela superou todos os meus escrúpulos, mas palavras desse tipo
provavelmente seriam tão imperdoáveis
quanto são inesquecíveis. Eu posso
apenas te contar da lições que eu aprendi com você, minha querida,
amada, Elizabeth; lições do coração, do erro dos meus modos e meu
intolerável egoísmo em não considerar as sensibilidades daqueles que eu
amo, lições que me fizeram um homem melhor. Elas também me transformaram
em um homem que nunca irá esquecer o brilho dos seus belos olhos, a
encantadora mudança do seu semblante quando você encontra uma vítima
para as suas provocações, a extraordinária luz que você traz ao mais
escuro dos cômodos; e eu vou sempre sentir a falta da sua presença
quando eu estiver distante de você, mesmo que anos e décadas se passem.
Você é uma mulher em um milhão, tanto pela sua honestidade e doçura
quanto pela sua beleza e inteligência, e tem sido um privilégio ser um
adorador aos seus pés. Á essas memórias eu não iria renunciar por nada,
mesmo se elas forem as únicas que eu jamais terei de você.
Agora você vê o que apenas as chamas
tinham visto até agora. Eu irei entender completamente se você me
tratar como se essa carta nunca tivesse existido; de fato, eu não mereço
nada mais, e você não precisa se preocupar que eu irei importuná-la
mais. O seu amor é um prêmio que eu não ouso sonhar em obter, um
precioso demais para um mero mortal como eu, mas se você encontrar
alguma pequena parte de você que está disposta a considerar meu pedido,
ou melhor, até mesmo tolerar minha presença ocasional, eu peço que você
encontre alguma maneira de tomar piedade de mim e me mostrar o seu
perdão por estas palavras. Eu estarei no bosque a cada manhã, meus
pensamentos ocupados com você.
Eu irei apenas acrescentar, Deus a abençoe.
Seu, mais do que de mim mesmo,
Fitzwilliam Darcy"
Fonte: janeaustenpt.blogs.sapo.pt/